segunda-feira, 24 de março de 2014

A ópera, a guerra e a ressurreição da Rússia

Vinte anos após derrota e colapso da União Soviética, país retomou comando de sua economia e enorme influência internacional. Como isso foi possível?

por José Luis Fiori — publicado 21/03/2014 17:38
[Este é o blog do site Outras Palavras em CartaCapital. [Publicado originalmente em 30/5/2008, no Caderno Brasildo Le Monde Diplomatique]
Relembro, porque me causou uma profunda impressão. Uma montagem russa da óperaGuerra e Paz, de Serguei Prokofiev, na Bastilha. Era 1998, a União Soviética havia desaparecido, e a Rússia estava humilhada e destruída. A ópera Guerra e Pazestreou no Teatro Maly, em Leningrado, no dia 12 de junho de 1946, pouco depois da invasão e expulsão das tropas alemãs, e da vitória russa, na Segunda Guerra Mundial; e conta a história da invasão e expulsão das tropas francesas e da vitória russa, na guerra com Napoleão Bonaparte, em 1812. Na última cena, o povo e os soldados russos cantam juntos uma peroração apoteótica, proclamando a eternidade do “espírito russo”. Com força, emoção, convencimento, inesquecível.
E, de fato, depois da destruição de 1812, a Rússia se reconstruiu e se transformou numa das principais potências europeias do século XIX; e depois de 1945, a União Soviética voltou a levantar e se transformou na segunda potência militar e econômica do mundo, na segunda metade do século XX. Como já havia acontecido antes, em 1709, depois da invasão e da expulsão das tropas suecas de Carlos XII, por Pedro o Grande, quando a Rússia começa sua fantástica modernização do século XVIII. Mas em 1998, parecia impossível que isto pudesse acontecer de novo, depois da derrota soviética e da destruição liberal da economia russa. Dez anos depois, entretanto, no momento da posse do seu terceiro presidente republicano, Dmitri Medvedev, a Rússia está de novo de pé, e o “espírito russo” volta a assustar os europeus, e preocupar o mundo. O jornalFinancial Times publicou recentemente um caderno especial sobre a Rússia, onde afirma que “nem Bruxelas nem Washington estão sabendo como tratar com a Rússia, depois de Vladimir Putin, porque a Rússia está cada vez mais disposta a retomar sua posição no mundo, em particular nos países da antiga União Soviética”. (1)
Em 1991, imediatamente depois da dissolução da União Soviética, os Estados Unidos e a União Européia, se colocaram o problema, e se atribuíram a tarefa de “administrar” a desmontagem do “império russo”. Por causa de suas conseqüências econômicas, e por causa do problema geopolítico da Europa Central. Para os Estados Unidos, o objetivo fundamental era impedir o surgimento de uma “terra de ninguém” no leste europeu. Por isto lideraram a expansão imediata das fronteiras da OTAN, e a ocupação das posições militares que haviam sido abandonadas pelos soviéticos, na Europa Central. Esta ofensiva estratégica da OTAN e da União Europeia, e sua posterior intervenção militar nos Bálcãs, foi uma humilhação para os russos e provocou uma reação imediata e defensiva que começou, exatamente, pela vitória eleitoral de Vladimir Putin, em 2000, e a retomada, pelo seu governo, de uma estratégia militar agressiva, depois de 2001.
Durante suas duas administrações, o presidente Putin, manteve a opção pela economia de mercado, mas recentralizou o poder, e reconstruiu o estado e a economia russa, refazendo seu complexo militar-industrial, e nacionalizando seus recursos energéticos. A Rússia ainda detém o segundo maior arsenal atômico do mundo, e o governo Putin aprovou uma nova doutrina militar que autoriza o uso de armamento nuclear, mesmo em caso de um ataque convencional à Rússia, na hipótese de fracassarem outros meios para repelir o agressor. Além disto, o novo governo russo alertou os Estados Unidos – ainda no ano 2000 — para a possibilidade de uma corrida nuclear, caso insistissem no seu projeto de criação de um “escudo anti-balístico” na Europa Central.
O interessante, do ponto de vista da história russa, é que agora de novo, como no passado, depois de 2001, também a economia russa se recuperou e voltou a crescer a uma taxa média anual de 7%, puxada pelos preços do petróleo e das commodities, e sustentada por um boom de consumo e de investimento interno. Este crescimento – liderado pelas grandes empresas estatais do setor de energia e armamentos — multiplicou seis vezes o produto interno da Rússia, que já superou o PIB da Itália, e deve superar o PIB da França, nos próximos dois anos. Dez anos depois da sua moratória, a Rússia detém a terceira maior reserva em moeda estrangeira do mundo, depois da China e do Japão, e seus salários subiram de uma média de U$ 80 dólares por mês, no ano de 2000, para U$ 640, no ano de 2007, quando a economia russa alcançou seu nível de atividade anterior à grande crise. E neste clima de boom econômico, o novo presidente Dmitri Medvedev convocou, recentemente, os empresários russos a copiar o modelo chinês e aderir à onda global de aquisição de empresas estrangeiras, para acelerar ainda mais economia russa, e reduzir a sua dependência tecnológica.
Ou seja, quinze anos depois da derrota e do colapso da União Soviética, o estado russo retomou o comando de sua economia e de sua inserção internacional. E tudo indica, neste início do século XXI, que está recuperando sua importância estratégica, como maior estado territorial do mundo, o único com capacidade de intervenção por terra, através de suas próprias fronteiras, em todo o continente eurasiano. Por isto, é uma rematada bobagem falar da Rússia como uma potência ou uma economia emergente, quando na verdade se trata de uma velha e grande potência que está reocupando sua posição tradicional na Europa, na Ásia Central e no Oriente Médio.
Mas nenhum analista internacional consegue prever os caminhos futuros desta nova ressurreição do “espírito russo”, até porque a Rússia sempre foi mais misteriosa e imprevisível do que a União Soviética. Faz algumas semanas, Andre Klimov, líder liberal da Duma, afirmou que “seria um erro grave, neste momento, alguém pensar que possa fazer com a Rússia o que bem entenda” (2). Palavras que soam como uma advertência suave, como quem quisesse relembrar às demais potências, a mensagem final de Serguei Prokofiev, na sua grandiosa ópera Guerra e Paz : o “espírito russo é eterno”, e ressurgirá sempre de novo, e com mais força, toda vez que o seu sagrado território for invadido, ou que o povo russo for humilhado, como aconteceu várias vezes, na história, e voltou a acontecer, no final do século XX.
-
1. Financial Times, Rússia, Special Report, 18 de abril de 2008, p:3
2. Idem

José Luís Fiori é professor titular de Economia Política Internacional da UFRJ, é Coordenador do Grupo de Pesquisa do CNPQ/UFRJ, “O poder Global e a Geopolítica do Capitalismo”,www.poderglobal.net. O último livro publicado pelo autor, O Poder Global, editora Boitempo

terça-feira, 18 de março de 2014

China promove aperfeiçoamento da defesa nacional


Xi Jinping pede aperfeiçoamento da defesa nacional e do exército
O presidente chinês Xi Jinping reiterou nesta segunda-feira (17) a
necessidade do aprofundamento das melhorias da defesa nacional e do
exército e a persistência tendo como alvo a construção de um exército
com maior potencial
.


domingo, 16 de março de 2014

Reunião da Unasul em Santiago



A reunião de chanceleres dos países membros da Unasul realizada
nesta quarta-feira (12) foi mais uma demonstração de que um novo tipo de
relacionamento está consolidando-se entre os países da América Latina,
prevalecendo o respeito mútuo, a defesa da soberania, o diálogo entre
iguais e a rejeição às fórmulas intervencionistas do passado que seguiam
os padrões impostos pelo imperialismo estadunidense e seu
pan-americanismo inspirado na Doutrina Monroe.

 Portal Vermelho




***  2.2 A PREDOMINÂNCIA DA DOUTRINA NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA

AMÉRICA

Durante os séculos XIX e XX, as doutrinas que prevaleceram no continente americano

no desenvolvimento das relações internacionais marcaram de forma significativas as ações

diplomáticas para o presente.

1

O Acordo de Petrópolis sobre ação do Barão do Rio Branco que interviu via Inglaterra para cortar o

financiamento pretendido pelo “Bolivian Sindycate de Nova York” e demonstrou a pretensão de guerra por

parte do governo brasileiro esses duas intenções convergiram para consagração do acordo, sobretudo, o corte do

financiamento com La Paz, a partir compensação de 110 mil libras esterlinas repassadas ao “Bolivian Sindycate

New York” para desistir ao apoio a La Paz, reduziram o ímpeto pela região por parte dos bolivianos somado

ao deslocamento de forças armadas do Mato Grosso e do Amazonas em direção a fronteiras com a Bolívia

resultando na assinatura do Acordo.

O pensamento diplomático no período evidenciou o unilateralismo e buscou de forma

própria sintetizar os ideários do pan-americanismo2

sentido, Diniz (2012, p. 63) aponta que da síntese dessas duas doutrinas surge uma terceira

denominada doutrina Andrada compreendida na vital importância da mentalidade épica de

um destino em comum e a política centrada na união dos países sul-americanos de forma

independente na América.

O pan-americanismo latino agrega à compreensão da solidariedade latino-americana

adjunta à luta pela independência na América hispânica, com a ideia de anfictiônica4

um governo supranacional da sociedade hispano-americana surgido no Tratado do Panamá

e tendo como seu principal referente Simon Bolívar em sintonia para a integração política e

econômica do continente com os aparatos criados no congresso do Panamá em 1826, para

Diniz (2012, p. 63), em dicotomia há intenção da doutrina Monroe em 1823, suas raízes são

advindas da Guerra de Secessão5

interestatal estadunidense que à época buscava a distinção da Europa absolutista e

expansionista.

À margem e influenciada pelas ideias de independência e separatismo vindos da

América espanhola, e por outro lado, dos Estados Unidos, a diplomacia brasileira respondeu

mantendo elementos dos dois ideários. É possível ver o surgimento de um americanismo

refletido na diplomacia do Brasil o conteúdo da Doutrina Andrada como aponta Diniz

(2012, p. 63). Para o autor essa matriz diplomática é fundada nos aspectos “Nosso destino” e

“União” centrado na política e nos componentes histórico e geográfico.

e o monroeismo estadunidense3

e portadora do sentimento sistêmico de relacionamento

2

O Pan-americanismo foi ideário de integração cooperativa entre as recentes nações independentes da América

espanhola tendo à frente o Simón Bolívar (1783-1830), fato marcante foi o encontro no Panamá em 1826, onde

reuniu as nações sul-americanas independentes com conteúdos avançados porém idealizado pelo sentimento

de emancipação, foram firmados o tratado de União e a Liga e a Confederação Perpetua, contudo as diferenças

entre nascentes repúblicas tornaram impossível a continuação do ideário. A tentativa de produzir novos

encontros Peru, Chile, Venezuela e Uruguai esbarraram novamente nos conflitos latinos proporcionando a

consolidação do pensamento estadunidense de integração sobre o controle do mesmo.

3

O monroeismo estadunidense traduziu na frase de James Monroe “America para os americanos”, defendia

uma espécie de integracionismo de todas as nações americanas sobre o controle dos Estados Unidos, e, em

1890, definitivamente consolidou-se a partir de “New York”, o pensamento reinante como é compreendido um

conjunto de políticas de incentivo a integração dos países americanos, dentro do campo hegemônico dos Estados

Unidos.

4

Em junho de 1824, Simon Bolívar convocar o congresso Anfictiônico para Panamá para 1826, com intuito

de reflexão acerca dos assuntos pertinentes às recentes repúblicas na America latina e rumo à união pretendida

sobre os aspectos de independência política, integridade territorial e o sistema de conciliação entres Estados

participantes, representado na figura de Simón Bolívar um alto grau de unidade de aliança e paz.

5

A Guerra de Secessão constituiu-se no conflito interno nos Estados Unidos oriundos do norte contra o sul

entre 1861 a 1865. Os estados do norte foram vencedores e impuseram o fim da escravidão, a perda posições

políticas, por outro lado, de imediato os estados do sul se viram em meio à crise, que logo em seguida, ocorreu

uma expansão do modo de produção capitalista pretendida pelos estados do norte.

Sua avançada formulação colocava como prioridade da política externa

a superação da vulnerabilidade externa, que se expressava pela defesa

da unidade territorial e a busca de maior autonomia decisória do Estado

Brasileiro em relação dos centros de poder, distanciando-se do paradigma

das disputas ibéricas, que pautava as tensões entre as Américas hispânica

e portuguesa. De igual modo, a política externa era vista como fonte

de superação das disparidades internas, sendo por isso uma via para o

desenvolvimento nacional (DINIZ, 2012, p. 64).

*** - Intervalo extraido do TCC ASSIMETRIAS ENTRE FORÇAS ARMADAS E DIPLOMACIA NA AMAZÔNIA de autoria de Augusto Cleybe Ribon defendido na FACS/IFCH/UFPA 2013