domingo, 28 de novembro de 2010

A "viagem" de Nonato

CONTO: A "viagem" de Nonato
AUTOR: Augusto Cleybe - PSEUDÓNIMO: Cuiú da Miruca
Revisão: Hellen Ribon

O corredor excessivamente iluminado conduzia aquele jovem com uma sensação de frio razoável. Nonato seguia pelo corredor com inicio de tremedeira, mas não era de frio e sim de angústia nervosa que percorria seu corpo. Em suas mãos o cartão de embarque já em parte molhado de suor, sentia uma energia estranha que provocava medo e vontade de voltar atrás e esquecer aquele momento.

Porém, ao chegar à porta do avião, Nonato se depara com a aeromoça que orientava os passageiros para o embarque. Linda, de feição suave e olhos verdes, Nonato de cabeça semi-baixa e olhando com a parte de cima dos olhos, mais escutando que vendo diretamente a aeromoça.

Antes de seguirmos cabe aqui uma informação, Nonato oriundo da vila do céu no interior da cidade de Soure, na Ilha do Marajó, acostumado a jogar futebol com os amigos no campinho com uma bola velha e dura, por isso seu apelido “chuta-coco” por ter um chute forte e certeiro, e quando não perdoava chutava de bico, com pés largos e dedos grossos, parecido com pés de tracajá. Tenha como trejeito timidez, que beirava na “lharga” do absurdo, chegava até se encolher e ficar mudo e catatônico. A aeromoça de jeito suave se dirigir ao Nonato:

- Boa noite Senhor, posso ajudá-lo?

Com um silêncio sepulcral, Nonato só balança a cabeça de cima para baixo positivamente, a aeromoça repete:

- Boa noite Senhor, posso ajudá-lo?

Nonato entrega o bilhete de passagem e diz:

- Moça qual é minha cadeira?

A aeromoça com um leve sorriso, segurando uma risada maior devido à “mancada” do jovem, diz:

- Meu senhor o seu assento é o de 9b a sua direita;

Tudo aquilo era novidade para Nonato, um jovem de fisionomia baixa, cabeça chata, da cor do rio amazonas, cheio de “tuira”, de nariz largo e grande e costumado a enfrentar as dificuldades da vida como o búfalo do Marajó com firmeza, seriedade e força, mas com alegria contagiante, que naquele momento teimava a se esconder no seu íntimo.

Nonato segue pelo corredor da aeronave até seu assento, quando se depara ao chegar ao assento com uma senhora dourado com “blazer” de cor prata e cabelo loiro com jeitos finos e delicados sentará ao seu lado.

Nonato se senta e coloca sua sacola no meio da perna, e tenta relaxar no exato momento em que as luzes de emergências orientam a apertar os cintos. Nonato não percebe os avisos e segue sem apertar o sinto, mas aperta as mãos freneticamente e desconfortavelmente no assento. A aeromoça chegar e aperta o sinto do Nonato, foi daí que Nonato começa a sentir um mal estar no estomago como se borboletas voassem constantemente em sua barriga.

O Jovem marajoara reagindo ao mal estar na barriga tenta se soltar, ousando de força e sem jeito, não consegue se libertar do sinto, foi quando a senhora de “blazer” ao seu lado, diz:

- Posso ajudar? É só fazer isso!

Com um único dedo, a senhora de “blazer” toca no sinto e solta o marajoara. Nonato mudo até esquece a dor de barriga e, ao sair, a aeromoça pede para que ele volte para o assento. O comandante do avião comunica que a aeronave começa a taxiar e pede com toda tranqüilidade que permaneçam em seus assentos.

Nonato começa a suar frio e segurar com firmeza no assento. A senhora de “blazer” até se afasta para o lado da janela, no sentido de dar mais espaço para o jovem que não disfarçava seu descontrole. Nesse intervalo a aeronave coloca-se na cabeceira da pista e inicia sua decolagem.

Ao fechar os olhos, levantar a cabeça e segura firmes os braços do assento. O marajoara relembra o nervosismo que teve na prova do vestibular no campus da UFPA em Soure. Nem se compara aquilo que sentia no momento; foi quando no impulso feito pelo avião, o jovem começa a ter convulsões.

Ao demonstrar que poderia vomitar, a senhora de “blazer” reage e procura atendê-lo para evitar o pior. Mas foi inevitável, Nonato se fecha, mas consegue segurar o vomito e vomita sobre a senhora de “blazer” que tentava atendê-lo... O “blazer” de cor prata tomou várias cores com pontos rosados, escuro e uma textura pastosa com cheiro pouco agradável.

Nonato desmaia, mas não era nada, apenas mais um sonho que começa a ser repetitivo cada vez mais que se aproxima a aula magna na UFPA, depois da sua aprovação no vestibular e as comemorações com a família e os amigos da ilha, aprovado na modalidade de COTAS dentro política afirmativa no último vestibular no qual temia ser discriminado por isso, pois foi aprovado num curso dito de elite, e não sabia como seus futuros colegas e a Instituição de Ensino Superior poderiam lidar com essa novidade.

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